sábado, 2 de outubro de 2010

Eu, sujeito




Daqui de dentro
Vejo o que não é dito,
Ouço o sofrimento
Sinto corações aflitos


Daqui de dentro
O sol não brilha tanto
A chuva descompensada
Se confunde com o meu pranto


Daqui de dentro
O medo, o vazio, a solidão
A indiferença, o desafeto
Absurda contradição


Dia após dia
Perdemos mais a identidade
"Mãos para trás, cabeça baixa"
Será que perdemos a dignidade?


O mundão lá fora é o mesmo:
Olhos reprováveis da sociedade
Faltam escolhas objetivas
Para lutar pela liberdade


Daqui de fora
Vejo o que não é dito
Mas é expresso no olhar,
No riso e no grito


Daqui de fora
O sol não brilha tanto
Minha cabeça permanece baixa
Por tamanho desencanto


Daqui de fora sou mais um
Não sou mais eu. Não tenho nome
Não tenho credo. Não tenho laços,
Mas sinto frio e sinto fome


Para o meu alento não há sustento
Sou só um homem que vaga de dentro para fora
Que por vezes não vê a hora
De ser, de verdade, sujeito.



Natália Abreu,
sobre sujeitos dentro e fora das prisões 

Um comentário:

  1. adorei parece falar pelo seu eu interior ate etaum desconhecido.

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