sábado, 2 de outubro de 2010

Bernadete




Saindo do beco
Lá vem Bernadete
Robusta, de batom arregalado,
Blush na face, mascando chiclete.

São seis da manhã
Já está tudo preparado:
Menino na creche,
Arroz refogado.

Lá vai Bernadete.
Ônibus lotado.
O senhor vai em pé
E o rapaz, assentado.

- Seu moço! Dá licença!
Fico na próxima parada!
Espreme daqui, aperta dali,
Suspende a sacolada.

Lá vai Bernadete
Pra mais uma jornada.
Zona Sul, gente chique!
Meio que desengonçada.

A patroa deixa dito:
- Quero tudo bem lavado!
Roupa estendida, casa limpa,
Filé bem passado!

De noitinha o patrão:
- Bernadete! Minha empregada!
Está aqui sua documentação,
Sua carteira foi assinada.

São sete da noite
Lá vai Bernadete, para casa mal acabada.
No ônibus lotado, cheirando a labuta,
Mais uma assalariada.


Natália Abreu
(Poema da série “Meu Brasil, brasileiro”)

Nenhum comentário:

Postar um comentário