sábado, 2 de outubro de 2010

Juvenal



Mãos calejadas,
Calcanhares rachados,
Olhos cansados,
É o senhor Juvenal
Que aos quarenta e tantos
Carrega lata de areia na cabeça,
Faça chuva ou faça sol.
Tem com a esposa sete filhos
Que faz questão de ver estudar
Este ano não teve vaga
Pro caçula se matricular
Mas Juvenal é homem de fé
Pegou com Nossa Senhora
De um jeito!
Que o negócio vai dar pé
Enquanto isso trabalha
E reza e trabalha.
E de um tudo faz nessa vida
Para nada à família faltar
Mês de chuva,
Pouco serviço
O negócio vai apertar
Água, luz, padaria,
Contas e contas pra pagar
Não teve serviço o suficiente,
O dinheiro não vai dar
E lá vai seu Juvenal
Segue pra porta do bar
Desce uma, desce duas...
“Tem as conta pra pagar”
Desce três, desce quatro...
“Tem a família pra sustentar”
Chega em casa embriagado
Lata vazia, tudo apagado.
Será que já vieram cortar?
Mas a TV estava ligada,
E no programa da madrugada,
Dizia uma voz inflada que:
“Com Deus na caminhada
A vida há de melhorar”!


Natália Abreu
(Poema da série “Meu Brasil, brasileiro”)

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