Certa vez olhando pro rio, pensei:
quero ser rio.
Se pudesse escolher, queria ser rio.
Ora manso, ora agitado,
ora turvo, ora límpido…
me parece de uma liberdade sem precedentes.
Já observou um rio?
Então me aproximando mais dessa fortaleza
eu vejo que ser rio não é “só” sobre ser livre.
Quando vi as pedras compondo seu curso,
desde as profundezas à superfície,
quase desisto de sê-lo.
Quase.
Fosse eu, ali, batendo de pedra em pedra,
sobraria nada de mim!
Só gemidos de dor e estalos de costelas quebradas…
ainda bem que rio é rio.
Porque as pedras não arredam o pé!
Mas, rio sendo rio, dá um jeito de chegar ao mar.
Bailando como se pedras não existissem lá,
não perde o curso,
não perde a força,
não se perde no caminho.
Prefiro mesmo é ser gente que se inspira no rio.
Ousadia a minha…
Me sirvo dos barcos que,
tão ousados quanto eu,
se entregam às águas.
Contornamos as pedras.
Desembocamos no mar.
O rio, o barco e eu.
As pedras ficaram lá.
Natália Abreu