domingo, 21 de julho de 2024

O poeta

Dê-me aqui

Caneta e papel

Me dê a chance 

De dizer sobre isso 

Mas se tem algo que não podes me dar:

É esse olhar

Esse jeito 

Esse viço 

Que sai de dentro do peito 

Na missão de transformar 

Tipo formato de nuvem

Que a subjetividade pode moldar

Assim é o poeta

Assim é o artista

No viver da vida

Capta a cena em verso

Compõe sua poesia.



Natália Abreu

O verso e a vida

Ela pensava que poesia 

Era sobre versar num pedaço de folha

Até perceber que poesia

Era tudo o que se passava

O ritimar da vida

O trágico 

A cena divertida 

O movimento das asas dos pássaros 

O barulho de um pingo d’água 

A gentileza com a senhora na rua

E o invisível na calçada 

As cenas do cotidiano 

São a vida versando

Num ritmo próprio, 

Singular 

Carece de olhar atento

Encantamento 

Para ver na vida

A poesia versar…



Natália Abreu

O OUTRO




Não espere fazer sentido para você, para que você respeite. 

O fato de fazer sentido para alguém, já é digno de ser respeitado.


Na’breu

Passado, presente e futuro

 



O passado e o futuro não estão tão distantes… 

eles estão conectados por uma linha tênue 

chamada presente.


Na’breu

Sobre limites e auto-cuidado

 



O "não" sempre será uma responsabilidade sua.



Na’breu

Sobre mudanças



Se pensar que

de pousar em pousar 

a gente vai e não volta 

ao mesmo lugar,

me despediria de quem fui ontem 

para saudar quem amanheci hoje!



Natália Abreu

O rio, o barco e eu

Certa vez olhando pro rio, pensei: 

quero ser rio. 

Se pudesse escolher, queria ser rio. 

Ora manso, ora agitado,

ora turvo, ora límpido… 

me parece de uma liberdade sem precedentes.

Já observou um rio? 

Então me aproximando mais dessa fortaleza 

eu vejo que ser rio não é “só” sobre ser livre. 

Quando vi as pedras compondo seu curso, 

desde as profundezas à superfície, 

quase desisto de sê-lo. 

Quase.

Fosse eu, ali, batendo de pedra em pedra, 

sobraria nada de mim!

Só gemidos de dor e estalos de costelas quebradas… 

ainda bem que rio é rio. 

Porque as pedras não arredam o pé!

Mas, rio sendo rio, dá um jeito de chegar ao mar. 

Bailando como se pedras não existissem lá, 

não perde o curso, 

não perde a força, 

não se perde no caminho. 

Prefiro mesmo é ser gente que se inspira no rio. 

Ousadia a minha… 

Me sirvo dos barcos que,

tão ousados quanto eu, 

se entregam às águas. 


Contornamos as pedras. 

Desembocamos no mar. 

O rio, o barco e eu.


As pedras ficaram lá.


Natália Abreu


Pronto para voar

Eu preciso dizer a você 

Das incríveis maneiras de existir

Que nenhuma aspereza de vida

Substituirá a beleza do sentir


É que a vida, sabida, 

se encarrega 

Ora de expor, ora sucumbir 


Mas existe um menino 

Para quem, se houvesse jeito,

Eu queria chamar no estreito 

E lhe dizer ao pé do ouvido,

Como quem dá conselho

Ou oferta, ligeiro,

um ombro amigo


Eu queria dizer

Que teria, genuinamente,

acolhimento,

Praquele menino 

Que se viu imperfeito 

E como doeria ser diferente 

Tal qual um punhal 

Rasgando-lhe o peito 


Queria que ele soubesse 

Que o outro não lhe definiria

Que sua história não lhe limitaria 

E que não teria lugar no mundo 

Onde não lhe caberia 


Menino, 

Eu queria te dizer tanto

Eu queria… 

Mas você já sabe!

Saberá… 

ou já sabia?


Que o céu inteiro é o limite 

Mesmo que só você acredite

Que toda luta travada

Já era trecho 

Compondo estrada


Sim! Você já sabia!

Que mesmo que fosse sofrido

O sonho, 

No coração do menino

Encontraria meio de ser vivido


Voa, menino!

Que a vida tem pressa de acontecer

Que os trechos rumados 

não se dão à toa

Tem sons que só a gente escuta

Ecoa…

Portanto, não tenha medo, 

Menino, voa!


Natália Abreu


Louco e livre

Ser louco e livre

Tem me exigido resistência


Posso dizer até que, paciência


Para dizer o óbvio com transparência


E tentar elevar à consciência


Que quando se fala em saúde mental


Há que se ter um ponto central:


É na liberdade 


Que faz morada a essência,


Aquilo que agrega decência


Portanto, deixo aqui meu apelo


Que traduz certo desespero


Entre os muros,


Não alimente essa crença


Ela é descabida, sem evidência



É na liberdade que se tem vida plena




Natália Abreu


Minha loucura

 A minha loucura não está à venda

E a minha fala, não mais se cala


Se tem uma coisa certa nessa caminhada


Devo dizer, meu camarada


Que de onde venho, não pego estrada


Minha liberdade custou muito cara.




Natália Abreu